TUDO FICOU NO PASSADO
Thiago Alves
Armei aquela coivara
Eu mesmo acendi o fogo
Choveu, eu arranquei gogo
Atrás da cerca de vara
E com cipó de taquara
Teci mais uma tipóia
Com canapú e gogóia
Eu fui bem alimentado
Fui fachiar no roçado
Sob a luz dum candeeiro
Acordei num desespero
Tudo ficou no passado
Bebi água da moringa
Com sede e muito cansado
Desapeei do montado
Na jurema da caatinga
Um garrote com mandinga
Escapou do meu cercado
Vi um ninho de beija-flor
Na urtigueira em se por
Depois do milho quebrado
Assei carne sem tempero
Acordei num desespero
Tudo ficou no passado
Dormi sob um juazeiro
Pois o sol tava tinindo
Ouvi porteira rangindo
No passar dum cambiteiro
Ouvi o reio num estalo
Cantou no monturo um galo
Mamãe varrendo o terreiro
Com um vassourão cortadado
De relógio amarrado
Na vara de marmeleiro
Acordei num desespero
Tudo ficou no passado.
Thiago Alves Poeta
Enviado por Thiago Alves Poeta em 26/05/2016