A Arte de Thiago Alves
Poemas & Cores - A expressão da alma.
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Textos
MACACO MATRICULADO
1
As vezes na nossa vida
Nós tomamos decisões
Por impensadas ações
Não encontramos saída
Me vi numa investida
Que a vida me pôs um dia
Vi soprar a ventania
Nas ondas que o mar corcunda
Quase que meu barco afunda
Na força de maresia.
2
Mamãe sempre me dizia
Um bom ditado e veraz
Que quem se abaixa de mais
O fundo aparece um dia
Esta certa profecia
É eficaz e notória
Se não me falha a memória
Andei desacreditando
Certa vez me vi pagando
Uma sem escapatória.
3
Vou lhe contar uma estória
Que comigo aconteceu
Não é peça de museu
Nem é coisa de vanglória
Não vou fazer oratória
Nem quero lhe deixar louco
Não vou aqui fazer pouco
Caso queira acreditar
Porém não quero enganar
Para não receber troco.
4
De tudo eu já vi um pouco
Nesse mundo de meu Deus
Vi panela dá pipoco
Que a tampa se perdeu
Vi conversão de ateu
“Coisa do Arco da velha”
Mas pus em pé minha orelha
Quando alguém veio informar
Que viu macaco falar
Isso é coisa sem parelha!
5
Tem quem faça mel-de-abelha
Não fica bom, mas se toma
Tem gente que muito embroma
Mas fica encima da telha
O enganador se assemelha
A carro ruim com defeito
Pra vender de todo jeito
O dono lava e escova
Tira retrato e faz prova
Para enganar o sujeito.
6
A causa faz o efeito
E seja ela qual for
Duma escola por direito
Eu estava Diretor
Inconsequente fator
Me aconteceu nesse preito
Eu conduzi do meu jeito
Mas foi difícil a gestão
Numa certa ocasião
Me aconteceu esse feito.
7
Disse-me um certo sujeito
Que por consideração
A ele eu tenho respeito
Falando de antemão
Me faça uma boa ação
Em nome da amizade
Já rodei toda a cidade
Gastei do sapato a sola
E não achei uma escola
Que me faça a caridade.
8
Perguntei com lealdade
Qual é a sua aflição?
Afirmou sua verdade
Com muita convicção
Disse: eu tô criando um cão
Dum macaco que ganhei
Num jogo que apostei
E me sobrou esse bicho
Mas ele tem por capricho
Falar às vezes, que eu sei.
9
Eu disse: Ih! Me lasquei!
Vou ter que acreditar nessa?
Lá vem você outra vez
Com tua fala às avessas!
Querendo me pregar peça
Nessa de bicho falar?
Fui tentando me livrar
Mas já me vi no fuxico
Vi a sinuca de bico
Disse ele: vamos apostar?
10
Se você matricular
Meu macaco nessa escola
Se ele logo não falar
Eu lhe dou essa sacola
Toda cheinha de dólar
Notas verdes e cheiro novo
Que eu quero mostrar pro povo
Que esse bicho ler já, já!
Eu pensei: vou me lascar!
Se prometer esse estorvo.
11
Essa eu nunca absorvo
Eu pensei com meus botões
Me vi comida de corvo
Com um “olhar de Camões”
Pensei quantas confusões
Eu já tinha resolvido
Vi que eu tinha concebido
Um caso pra resolver
Sem ter pra onde correr
Fui atender ao pedido
12
Fiquei com o bicho bandido
Matriculei o macaco
Para não ser mal-ouvido
Nem mostrar cara de fraco
Foi como um chute no saco
Sem perder o rebolado
Eu não estava preparado
E pensei: isso não cola
Um macaco na escola,
Vai dá o maior babado!
13
Pensa que macaco é gente?
Você está enganado!
É um bicho renitente,
Mungangueiro, enfezado,
Pinturento, acanalhado,
Buliçoso, trapalhão
Fazedor de expressão
Das piores que não presta,
Acabadozim de festa
E criador de confusão.
14
Foram os dias num estouro
Já quase o fim da semana
Eu quase tirando o couro
Do comedor de banana
Num entra e não entra em cana
Para dá satisfação
Para uns pais metidos a cão
Perguntando por capricho
Quando vai tirar o bicho
Do centro de educação?
15
Na quinta ou sexta nem lembro
Eu já meio abufelado
Querendo arrancar um membro
Daquele bicho safado
Eu me sentindo acuado
Sem ter mais razão pra dar
Eu chamei pra informar
E disse sem medo ao dono:
Lhe digo e não desabono
O bicho não vai falar!
16
Vou buscar o seu dinheiro!
Disse o dono cabisbaixo
Eu tomei um jeito ordeiro
Fiquei com cara de tacho
Quando entrou voando baixo
Dez meninos embalados
Eu olhei os condenados
Com cara de “ovo-gôro”
Me disseram um desaforo
Que o bicho tinha falado.
17
Eu fiquei injuriado
E gritei: Como foi isso?
Um moleque obstinado
Disse: eu vou lhe contar isso
E naquele reboliço
Eu fui ficando suado
Num "deixa eu contar" danado
Dois berros bem alto eu dei
"Fala um de cada vez"!
"E quero bem explicado"!
18
Fez-se um silêncio danado
Bento então se adiantou
Isto muito me irritou
Pois eu tinha atravessado
Bento na minha garganta
Por ele ter aprontado
Sempre ter causado afronta
Era o tipo do aluno
Renitente e importuno
Que sempre nos desaponta.
19
Aparentava essa monta
Bento sendo avermelhado
Do cabelo espetado
Na boca a resposta pronta
Pro cão só faltava ponta
Acho até que rabo tinha
Ele é daquela racinha
Que botou catinga em merda
E os pais só não deserda
Porque ninguém apadrinha.
20
Tinha a cara pintadinha
E não sei donde ele herdava
A sua voz irritava
Me deu um frio na espinha
Para não perder a linha
Ali fiz cara de calmo
Vi Bento a medir um palmo
Quando veio me explicar
Pra poder me controlar
Eu fui recitar um salmo.
21
Tive que imitar um almo
Quando fui surpreendido
Os meninos alvoroçados
Num ruge-ruge contido
Trouxeram todo encolhido
O bicho uniformizado
Para nos apresentar
Pra novidade contar
Do que tinham escutado.
22
Começou o ilinhado
O bicho entre os pirralhos
Gritou um coordenador
Quando tocou o chocalho:
“Cada macaco em seu galho”!
Um moleque obstinado
Correndo foi dando um brado:
Sai daí desse buraco!
Gritou de lá o macaco:
“Eu estou matriculado”!
23
Ali eu engoli seco
Aquela notícia triste
Me encolhi como um marreco
Pensando no que consiste
Disse: é de tudo existe!
Me sentindo encabulado
Pra manter meu nome honrado
Aguentei essa marola
Tendo que deixar na escola
O macaco matriculado.
24
Daquele dia pra cá
Eu fiquei com mais cuidado
Pra nunca mais noutra entrar
Me senti gato escaldado
Vivendo sempre armado
Já tomei essa medida
Disse até o fim da vida
Se alguém disser: isso fala!
Tu diz que fala ou não fala?
Digo “o diabo é quem duvida”!


FIM


Thiago Alves
A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 03/06/2016
Alterado em 24/07/2019
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